Confira a entrevista com a educadora Deize Barnabé !!!
Fale um pouco
da sua formação acadêmica e experiência profissional.
Professora Deize Barnabé: Sou
formadainicialmente no Curso de Formação de Professores Primários, de nível
médio, no Instituto de Educação Regente Feijó em Itu. Posteriormente formei-me
em Psicologia, nas modalidades Licenciatura e Formação de Psicólogos, na
Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCCamp. Em seguida formei-me em
Pedagogia, pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras N. S. do Patrocínio, em
Itu (com habilitação em Administração e Supervisão Escolar). Depois de muito
tempo, voltei à Universidade, fazendo o Mestrado, na área de Políticas de Educação
e Sistemas Educativos da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de
Campinas – UNICAMP, atuando no Laboratório de Políticas Públicas e Planejamento
Educacional-LAPPLANE.
Minha experiência
Profissional teve início em 1966, logo depois da formação em nível médio, como
professora da rede estadual, lecionando em caráter temporário na Fazenda
Quilombo, neste município, em uma classe multisseriada da 1ª à 4ª série do
ensino fundamental, ao mesmo tempo em que cursava Psicologia na PUCCamp. Ainda
como professora do ensino fundamental lecionei como substituta na EE Helena de
Campos Camargo e Randolfo Moreira Fernandes. A partir de 1969 passei a lecionar
também no ensino médio, na Escola de Comércio N. S. Candelária (disciplina de
Português) e na EE Dom José de Camargo Barros (várias disciplinas: Psicologia,
História, Trabalhos Manuais, Programas de Informação Profissional, etc). Já
formada em Psicologia, continuei a lecionar no ensino médio, ao mesmo tempo em
que exercia as funções de Psicóloga em Mogi Mirim (psicotécnico para
motoristas) e na Apae em Indaiatuba. Na APAE, da qual sou uma das fundadoras,
exerci também a Direção da Escola de Educação Especial, durante três anos, ao
mesmo tempo em que exercia a atividade de psicóloga clínica (particular) e
professora efetiva do ensino fundamental, na rede estadual. Em 1984 fui nomeada
Diretora de Escola Estadual substituta (EE Maria Cecília Ifanger). Dessa data
em diante, foi-me impossível conciliar os exercícios da diretoria e a
psicologia. Em 1988, após aprovação em concurso público, tornei-me Diretora
efetiva da rede estadual (EE Joaquim Pedroso de Alvarenga) e em 1993,
Supervisora de Ensino da mesma rede, na terceira D.E. de Campinas, à qual se
subordinavam as escolas de Indaiatuba. Aposentei-me no mesmo ano e em 1994
entrei, por concurso, na Prefeitura Municipal, no cargo de Pedagoga, na
Secretaria Municipal de Cultura, onde exerci também o cargo de diretora de
Departamento. Em 1997 fui transferida para a Secretaria de Educação, no cargo
de Diretora de Departamento de Planejamento e Administração, que exerço até
hoje, apesar de ter me aposentado, pela Prefeitura, em 2009. Esta é,
resumidamente, minha experiência profissional.
Como
professora de Psicologia na Faculdade Max Planck, gostaríamos de perguntar á
senhora, qual o grau de importância dessa disciplina para o curso de Pedagogia.
Professora Deize Barnabé: A disciplina de Psicologia é um dos fundamentosdo
curso de Pedagogia. Ela dará as referências fundamentais do conhecimento
científico da natureza do ser humano, especialmente da criança, objeto precípuo
da atividade do Professor. Sem o conhecimento da criança a Didática, outro
fundamento do curso, pode tornar-se inócua, pois não se adequará às fases de
desenvolvimento em que cada uma das crianças se encontra. É papel preponderante
da atividade letiva o conhecimento e o reconhecimento do ser a que ela se
destina: a criança. A Psicologia dá esse conhecimento, além de, subsidiariamente,
ajudar muito no auto conhecimento do próprio estudante, futuro professor. O
professor ideal é aqueleque, aseu auto conhecimento, junta três outros requisitos:
conhecimento do conteúdo a ser ministrado (o que se ensina), conhecimento da
didática para transmiti-lo (como se ensina) e conhecimento das características
dequem vai receber esse conhecimento (para quem se ensina).
Em sua
opinião, o ensino de pedagogia melhorou em relação ao que era ensinado no
passado. Quais os “melhores” pontos que progrediram?
Professora Deize Barnabé: Em minha opinião o ensino da Pedagogia, hoje, não
deve ser comparado ao da Pedagogia anterior à Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, de 1996, pois seus objetivos eram diferentes: a Pedagogia
“antiga” tinha como objetivo preparar o professor (já formado no Magistério em
nível médio, para as séries iniciais do ensino fundamental e pré-escola, ou em
qualquer outra licenciatura) para o exercício da Administração Escolar,
Supervisão Escolar, Orientação Pedagógica e Magistério nos cursos de formação
de Professores, de nível médio. Eventualmente, alguns cursos davam também a
formação para as séries iniciais do ensino fundamental. A partir da LDB é que
os cursos de Pedagogia passaram a ser a forma preponderante de formação para o
magistério na educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental. Penso
que ainda se está numa fase de transição entre os dois sistemas: a grade
curricular ainda é muito semelhante à anterior, embora as habilitações tenham
sido tão alteradas e ampliadas.Não há como falar em melhor ou pior, visto que
os objetivos são diferentes. Pode-se, isso sim, comparar a formação do
professor de educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental
feita através dos cursos Normais de nível médio (antigas) com a dos professores
da mesma categoria feita pelo curso de Pedagogia (atuais): o que havia de
práticas e didática naqueles, falta hoje aos cursos de Pedagogia e, em
contrapartida, o que faltava em informações teóricas e críticas àquele, abunda
nos atuais (arrisco-me a dizer que as teorias dos cursos de hoje são muito
preponderantes nos cursos, em detrimento das práticas). Temos ainda um longo
caminho para fazer essas adequações, que hoje, procuram ser supridas pela “formação
em serviço”, prática comum, e desejável, em quase todas as redes de ensino do
país.
E quanto à
educação no Brasil hoje, qual é a sua opinião? Houve ganhos, há falhas a serem
corrigidas?
Professora Deize Barnabé:A educação no país, hoje, atravessa uma fase bastante
peculiar: submetida a avaliações internacionais (principalmente o Programme for International Student Assessment
-PISA) o país coloca-se
nas últimas colocações, no entanto, quando comparado ao seu próprio
desenvolvimento, vemos que o acesso à educação, no ensino fundamental está em
torno de 95% da população da faixa etária. Isto demonstra que nas últimas
décadas o número de vagas ocupadas teve um acréscimo monumental em relação aos
anos anteriores. Outro problema que persiste, é o índice de reprovação: no
Ensino Fundamenta, de acordo com o censo escolar 2011, temos uma porcentagem de
matrículas 4% maior em relação à população da faixa etária, o que indica que
ainda há um índice de reprovação claro.Porém, os dados deste censo
mostram que, na última década, houve melhora na correção da distorção
idade-série no Ensino Fundamental da rede pública: em 2011, a média de idade
dos concluintes dessa etapa de ensino foi de 15,2 anos e em 2002, quando o
Ensino Fundamental tinha ainda oito anos de duração, era de 18,8anos.
Na Educação infantil as diferenças entre o
número de crianças atendidas e as existentes é, ainda, muito elevado, embora
haja um crescimento acelerado de atendimentos: o censo de 2011 aponta um
acréscimo de 11% nas vagas para creche (zero a três anos) em todo o país. Pelo
que vemos, muito foi feito, mas muito se tem que fazer ainda pela educação no
país, principalmente em relação à qualidade.
Alguns
especialistas dizem que a formação do professor no Brasil é deficitária, dai os
maus resultados da educação no Brasil! A senhora concorda?
Professora Deize Barnabé: A grande maioria dos
Professores atuantes hoje no Brasil, são oriundos dessa escola descrita na
questão anterior, que procurou valentemente, nas últimas décadas, abrir vagas
para todos, em detrimento do conteúdo básico ensinado. Com o acelerado
crescimento das vagas, houve a necessidade de se acelerar a contratação de
professores e sua própria formação (houve num passado próximo, necessidade de
se reduzir inclusive a duração dos cursos de formação para atender às
necessidades de mão de obra nas escolas). Outro fator, ainda relacionado aos
professores, que a meu ver tem interferido nesta questão é a própria qualidade
da educação básica que esses profissionais tiveram. Eles vão para os cursos
superiores com uma série de deficiências de aprendizagem de conceitos básicos
(que deveriam ter aprendido em seu curso básico) que devem ser sanados no
ensino superior, fazendo com que a carga horária destinada à formação
profissional seja proporcionalmente diminuída. Exemplifico: geralmente os anos
iniciais do curso de Pedagogia (e outras licenciaturas ) devem incluir no
currículo aulas de disciplinas que já deveriam ser de domínio dos estudantes,
como Língua Portuguesa e Matemática. Isso diminui o tempo disponível para as
disciplinas dos fundamentos e práticas da profissão! É evidente, na minha
opinião, que não é exclusivamente isso que torna a educação nacional tão
deficitária em qualidade: o papel da família deve ser considerado, e,
principalmente, o da gestão escolar. O gestor escolar é a mola mestra do
sucesso da escola: ele pode fazer os professores, por mais ineficientes que
sejam, se especializarem, oferecendo e incentivando oportunidades de formação e
analisando e forçando a auto análise de sua atuação, bem como, integrar a
participação das famílias na formação de seus filhos. Observa-se que as escolas
que conseguem um Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) mais elevado,
são as que aliam todos esses aspectos relevantes.
Os recursos financeiros também são um fator
importante. No Brasil, neste quesito, a melhora tem sido perceptível: passou da
aplicação de 4% do PIB para 5,5% em cerca de duas décadas. O Plano Nacional de
Educação, em tramitação no Congresso Nacional prevê, nos próximos dez anos, a
aplicação de 10% do PIB em educação (porcentagem maior que a dos países mais
desenvolvidos!). No entanto, mais recursos desacompanhados de políticas de
formação e valorização do professor não resolvem o problema!
Setembro de 2012